Na minha vida escolar, não tive uma boa relação com a matemática. Acredito que muitos adultos se identificam com essa minha fala. Se eu aprendia sobre a operação de subtração, não me explicavam por qual razão eu “emprestava um”. No caso da adição, então… Por qual motivo eu tinha que “subir o tal do um”? Por que não “dois”? Aprendíamos a técnica e a reproduzíamos. Ninguém precisava compreender o processo, apenas “seguir o modelo” ou o “exemplo”, como traziam os enunciados das atividades.
Que a matemática é uma ciência complexa, nós sabemos. É um dos cursos superiores com maior índice de desistência, com assustadores 61%¹, como apontam os dados da última pesquisa realizada pelo Ministério da Educação, entre 2017 e 2019. Indo além, o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA)², o maior estudo de educação mundial, indicou em seu estudo de 2018 que 68,1% dos alunos brasileiros com 15 anos não apresentam conhecimentos básicos de Matemática.
Os estudos da Nova Geração sobre a metodologia francesa do ensino da matemática iniciaram em 2006, após uma profunda reflexão da Coordenação Pedagógica e corpo docente sobre as práticas convencionais de reprodução dos conhecimentos matemáticos. Iniciava-se, então, um amplo processo de formação com a equipe da escola, com o objetivo de instituir e consolidar uma metodologia de ensino desta disciplina que trouxesse as crianças ao protagonismo.
Cabe ressaltar que a nossa escola não criou uma metodologia própria. Nós a construímos a partir dos estudos da ciência da Didática da Matemática, que tem como principais precursores Guy Brosseau e Gerárd Vergnaud, e dos programas formativos que a Coordenadora e professoras realizaram na Escola da Vila, em São Paulo. Hoje, essa metodologia de ensino é utilizada não somente na França, mas em escolas brasileiras, na Argentina e em vários países europeus.
A Didática da Matemática propõe quatro situações didáticas, que são disparadas pelo professor:
1- Ação: A criança (sozinha, em duplas ou em pequenos grupos), utiliza de seus saberes práticos para responder a um problema/atividade.
2- Formulação: Este é o momento de socialização dos saberes. A criança explica à turma, mediada pelos questionamentos do professor, a estratégia que utilizou para chegar ao resultado. Ao fazê-lo, se apropria conscientemente do conhecimento.
3- Validação: A turma analisa as estratégias apresentadas, validando-as ou não. Reflete-se sobre o caminho mais lógico, prático e econômico dentre o que foi compartilhado.
4-Institucionalização: O professor auxilia a turma a sintetizar este processo vivenciado coletivamente. É o momento de sistematizar o conhecimento, formalizá-lo, fazer seu registro escrito ou até a leitura do que o livro didático traz.
Este percurso didático deixa evidente a participação ativa da criança na construção dos aprendizados. É possível chegar ao entendimento de um conteúdo de forma reflexiva e autônoma, o que transforma este processo muito mais significativo à criança.
Se a geração da minha época (ou que a antecederam) e a de muitas crianças e jovens das escolas da atualidade tivessem a oportunidade de vivenciar tal Didática, quem sabe esta disciplina deixasse de ser a pedra no sapato da educação brasileira, como os dados estatísticos apontam.
Posso dizer que é um privilégio atuar em uma escola que se mobilizou a não apenas ensinar a matemática, mas que parou e se perguntou: como as crianças gostariam de aprender a matemática?
Professora Tanice Patrício Massuchetto
¹ https://www.poder360.com.br/governo/universidades-federais-tem-evasao-de-15-em-2018/