Documentar as ações das crianças em suas vivências significa colocar óculos específicos para enxergar além do óbvio e assim acompanhar com muito mais profundidade os processos de aprendizagem das crianças. A documentação pedagógica, apesar de soar como algo burocrático, é uma prática que nos ajuda, de fato, a conhecermos os percursos investigativos da criança e a maneira dela estar no mundo.
A professora Vanessa Mara Turassi Cavallari explica que, quando nos referimos a algo como “documento”, significa que aquele registro contém informações relevantes, que declara a autenticidade de um fato, acontecimento ou condição de algo. Por isso, é tão importante documentar a trajetória da criança. “As crianças possuem, como disse o incrível educador italiano Loris Malaguzzi, cem linguagens, muitas delas tão subjetivas, mas que não passam despercebidas pelo olhar sensível do adulto”, afirma.
Ouvir a criança, observar sem julgamentos, sem fazer interferências de nenhum tipo, estar realmente presente e disponível, é o que constrói esse olhar sensível. “Sabemos que, como todas as habilidades, se permitir a estar nesse estado por alguns momentos demanda treino, mas com disposição e reconhecendo profundamente a riqueza dessa atitude, é possível e muito enriquecedor”, destaca Vanessa.
Tudo que as crianças expressam através de suas atitudes, sejam elas durante as brincadeiras ou em algumas propostas pedagógicas, refletem seu estado interno e seu cotidiano. Se observarmos atentamente, percebemos que elas, constantemente, formulam hipóteses, interpretam situações de forma totalmente diferente e, principalmente quando percebem que o adulto as encoraja, diante desse mundo que oferece muitos desafios, se sentem seguras para seguirem adiante em sua exploração.
Vanessa Cavallari defende que coletar os vestígios deixados pelas crianças no trajeto e o significado importante de cada pegada no decorrer do seu caminho nos distancia da ideia de que a infância é apenas um estágio a ser superado e direciona nosso olhar para o momento presente, à sensibilidade, à riqueza de sentidos que podem surgir nesta fase da vida, à importância da construção de valores e desenvolvimento de habilidades. “Percebemos a criança como ser em potencial, que deseja também ser e atuar sobre o mundo, deixando suas contribuições”, enfatiza a educadora.
São usados vídeos, fotos, anotações do adulto, produções das crianças e, principalmente a reflexão do educador diante das informações, atribuindo um sentido e a importância devida ao que foi vivenciado pelas crianças. É como se o educador fizesse uma tradução das linguagens das crianças, colocando-as de uma forma compreensível para todos que a acessarem. A documentação pedagógica é o registro da marca individual. Revela a identidade e a autenticidade das experiências da criança.
Com a contribuição da professora Vanessa Mara Turassi Cavallari